quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Uma notícia feliz

Ontem eu tive uma notícia mto feliz. A Emily, que corta meu cabelo há anos, voltou a estar num salão no centro de SP. Ela tinha se mudado pra Guaianases há meses e eu estava me enrolando pra ir lá cortar. Felizmente (para mim), ela voltou! Agora está num salão todo chic (perfeito pros stories), tem cachorro fofo, toca rádio boa. A Emily é trans e todos os outros que trabalham lá são homens gays. Daí blz, primeiro dia da Emily no salão, eu cheguei, esperei, brinquei com os dois cachorros (Billy pai do Pingo, eles são iguais e a fita também é igual, então fica difícil). Conversei com a manicure que estava lendo o Universo em Desencanto. Eu disse que prefiro o cd ao livro, mas eu só li o primeiro capítulo do livro e o cd do Tim (meu íntimo, íntimo mesmo) eu ouvi muuuuitas vezes. Ela também gosta do Tim e tinha acabado de começar a ler o livro. Daí a Emily me atualizou da vida dela, o salão em Guaianases não tinha clientela, "olha, eu não tenho medo de mais nada na minha vida, nada". Eu atualizei ela da minha vida, "eu preciso sair de São Paulo, rápido". Minha irmã e minhas sobrinhas vão bem e vão cortar o cabelo lá também, sábado ou semana que vem. Daí a Emily resolveu cortar o meu cabelo do jeito dela, que é o que ela sempre faz. "Tá muito pesado, precisa de leveza". Cortou um monte, cortou muito, cortou tudo. Muita tesoura e a tal da desfiadeira. Eu que já tava com cabelo curtinho, descobri que tinha muito cabelo ainda para cortar. No final, eu falo que quero deixar reto atrás. Ela deixou com um monte de desfiado no pescoço que eu acho que vai me incomodar. Ela vira pra um dos outros cabelereiros "tem espelho?" "tem, ai do lado". Ela pega o espelho da parede do lado, um espelho enorme e todo meio rococó, e me mostra. "Vc tem que deixar ai o desfiado, por que combina com esse desfiado do ladinhho." "tá bom, vai, deixa". Daí a gente vê todos do salão olhando e rindo. O espelho de meio metro era fixo na parede. "Ah, mas eu tirei tão fácil". Ela tirou mesmo. E ele era muito mais bonito, dava um glamour pra uma conferida no corte. "eu também pensei isso no meu primeiro dia", disse um colega. Dar a última conferida naquele espelho lindo é um privilégio que nenhum outro cliente da Emily vai poder ter de novo. "Valeu, Emily. Se abrir sábado, a gente vem aí".
Chego em casa e ela manda mensagem "todo mundo adorou seu cabelo aqui!". A gente ri da última vez, quando eu raspei o cabelo baixo a protestos da outra cabelereira e de uma cliente. Ambas com cabelo comprido e alisado.
Enfim, parece que alguém está num lugar melhor essa semana. Eu estou bem melhor com meu corte novo e minhas três selfies. E fim.

domingo, 8 de julho de 2018

Fim do verão

Fechando um verão, começado há tantos outros, e um tanto deslocado de qualquer outro verão.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

sábado, 7 de abril de 2018

dia 7 de abril do ano 18

os santos estão todos muito longe
acordo, visto-me, ando, ando, ando
até bem perto
mãe e filho tomam sorvete
mãe, avó e carrinho de bebê
à sombra
um casal oriental
judeus levam quipás para passear
uma família carrega uma geladeira
vermelha, vintage
tão vermelha, tão vintage
dessas que não existem mais
que só uma família para carregar e que se cair
quebra
porta adentro, entro
nós todos, somos muitos
jovens comunistas, vegetarianos, sustentáveis
somos muito sustentáveis
fecha os olhos
deixa os problemas lá fora
faz uma conexão com seu corpo
você é a coisa mais importante do mundo
quando os pensamento vierem, desvia-os
no eco-mat
seguimos
os nada sustentáveis estão sendo mortos
hoje ele será preso
ou hoje, ou amanhã
abril é mesmo recheado de acontecimentos
seguimos nós calados
um acordo silencioso de sobrevivência
deixa a resistência lá fora
e equilíbrio ébrio
hoje até o ar dá um barato
olhar anda muito perigoso
ainda que pela janela
sobraram apenas windows

sexta-feira, 30 de março de 2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

Morte 1

Eu também sou poeta
Mesmo que dos piores
Mesmo que dos que se repetem

Dos que já nascem tortos
Dos que têm coração do tamanho do mundo
Dos que acham que tudo vale a pena

Eu também sou poeta
Mesmo quando não tenho voz
Quando já não sei o que dizer
Quando a impotência compete a vulnerabilidade

Mesmo quando eu não quero
Ainda sou poeta
Quando não há peito, não há palavra
Quando não há sentido

Dos piores sim
Mas dos que insistem em falar
Ainda que não se saiba o que

Instaurou-se o caos
Estamos todos perdidos
Seremos calados ou mortos

E não parece haver o que fazer